QUEM FOI REI ...

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terça-feira, 9 de junho de 2020

Prezados amigos/as

Após longo período sem postar nada, retorno para dar prosseguimento às minhas ideias sobre aquarela. Dessa vez vou escrever sobre alguns detalhes do início da aquarela moderna, ocorrida no século XVIII. Apesar de antes a técnica já ter sido usada com destreza por vários artistas, desde o Egito Antigo, alguns deles acabaram se destacando e colocando a aquarela num patamar até então desconhecido, rivalizando com o óleo como técnica  de igual importância. Vou citar três fundamentais: Paul Sandby, Thomas Girtin e Joseph Mallord William Turner. Houve vários outros, como Cotman, Cozens, mas para não ser enfadonho demais, ficaremos inicialmente com os três retro-citados, que realmente fixaram a aquarela definitivamente na história da arte.

Antes de tudo, é necessário dizer que meus textos não visam transgredir qualquer dispositivo de copyright. Não tenho nenhum interesse comercial com este blog nem pretendo publicar nada em forma de livro, ou qualquer meio que possa ser usado comercialmente. Este blog não faz parte de nenhuma tese de graduação, pós-graduação nem tem por finalidade ganhar acesso a qualquer estabelecimento ou instituição cultural ou de qualquer outro interesse. Sendo assim, para ilustrar as passagens e informações referentes aos artistas e obras que já mencionei e mencionarei, fiz e farei uso de textos alheios, em outras línguas, e os traduzi e traduzirei, adaptando-os livremente, com meu parco discernimento e conhecimento, sem qualquer intenção de inferir julgamentos de valor ou opiniões negativas, nem denegrir ou prejudicar quem quer que seja. Sou apenas um estudioso do assunto e tenho gosto em tentar passar adiante algumas informações contidas na minha biblioteca que, de forma geral, estão fora do alcance do interessado usual. Peço, desde já, compreensão e leniência. Meu único propósito é trazer à luz informações que ajudem na compreensão da aquarela como arte.

Os livros e sites que uso como fonte estão à disposição de interessados, se quiserem, no entanto, não empresto livros em hipótese alguma. Como esse não é um trabalho científico, não fiz nem farei aquela tediosa e longa lista bibliográfica ao fim de cada texto.

Se houver pessoa que observe qualquer erro ou transgressão às leis no meu relato, por favor entre em contato imediatamente, para que eu faça as devidas correções ou simplesmente delete o trecho afetado.




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Talvez seja necessária uma muito sucinta explicação de como a aquarela era usada e percebida antes do advento destes três pioneiros.

Sir Isaac Newton(1643 – 1727) foi um importante cientista britânico, descrito no seu tempo como um Filósofo Natural, figura central na Revolução Científica que se alastrou pela Europa no século XVII, que ensejou uma grande discussão sobre, entre muitas outras coisas, estética e a percepção do poder das imagens para nos sensibilizar em associação com pessoas e eventos de outras épocas e lugares.
A aquarela tornou-se uma alternativa prática, simples e direta para o registro de imagens, principalmente por dois motivos: 
a) Com o enorme desenvolvimento do comércio e das explorações científicas, era o meio adequado para ilustrar as expedições e os costumes das novas terras descobertas e dos novos parceiros comerciais, desconhecidos da sociedade inglesa até então, além de criar um cabedal de informações militares de todas essas conquistas. Todos os oficiais da Marinha Inglesa, como curiosidade adicional, tinham formação em aquarela e retratavam todo e qualquer porto ou local visitado, com esse objetivo.
b) Definir localmente e mapear a baixo custo as cidades, vilarejos, terras, propriedades, do ponto de vista legal, político, social e econômico, além do óbvio interesse militar da aristocracia.

Um reverendo inglês (Revd William Gilpin) desenvolveu um "código de regras" para se analisar tais paisagens, com o propósito se estabelecer "aquela qualidade especial" que torna os objetos visualmente "agradáveis" na pintura. A esse código ele deu o nome de "Picturesque" e se tornou um guia para a correta representação da Natureza em quadros. Naquela época, é interessante frisar, a pintura que representava a natureza fielmente, era considerada inferior à pintura idealizada.

Livros e livros foram escritos sobre o assunto, mas isso não nos interessa muito. O que nos interessa é que essa maneira de representar a natureza de forma real e sistemática é o que, aos olhos da Academia Real, diferenciava os pintores "topográficos", dos verdadeiros "pintores ideais".

A queda do Levante Jacobita na Escócia (1745-6) foi uma espécie de estopim para o desenvolvimento da aquarela. Tornou-se essencial o registro claro e acurado de informações sobre locais estratégicos, especialmente sob a ótica militar.
Ao contrário dos pintores ideais, que podiam manipular a paisagem para chegar aos seus propósitos, o pintor topográfico era obrigado a registrar a "simples verdade literal" do local a ser retratado.
Assim se fixou a aquarela inicialmente, quase sempre em forma de panorama ou visão de pássaro, sem a representação de nuvens ou sombras, com inclusão de figuras humanas apenas a título de decoração adjunta, sem qualquer interferência com a exatidão do desenho a bico de pena, com a menor variedade de cores possível, usualmente monocromia, aplicadas em lavagens claras.. A função era apenas fornecer o máximo de informações úteis do ponto de vista militar. 
Dentro dessa rigidez doutrinária, alguns artistas se destacaram, Com isso, o potencial da aquarela como meio de representação da paisagem começou a ser apreciado além do âmbito militar, pelo público e colecionadores. A representação das figuras humanas passou a ter influência na interação com o ambiente e o aspecto do local retratado. Outros recursos foram sendo adicionados lentamente, tornando a aquarela mais que apenas a representação da "verdade literal". Aí começa então, a fase dita "moderna" ou "romântica", da técnica de aquarela.

Vale ressaltar que não é minha intenção produzir biografias dos artistas mencionados, não só pela grandiosidade de suas obras e pela minha incompetência em visualizar o enorme alcance de suas contribuições à técnica, diante de tão ricas e importantes trajetórias artísticas. São necessárias centenas de compêndios para uma avaliação justa desses pintores. Apenas mostro alguns pontos importantes, no meu entender.




PAUL SANDBY


Paul Sandby, nascido em 1731 e falecido em 1809,  (e também seu irmão, Thomas), empregado como chefe topógrafo pela Coroa Britânica, foi o primeiro aquarelista a usar a figura humana com preeminência e convicção. Cansado com sua tarefa de desenhar mecanicamente a topografia, com o tempo e a experiência, ele foi o primeiro a desenvolver com a aquarela uma nova faceta mais expressiva e significativa da pintura de paisagem. Começou a trabalhar mais a composição, além da exatidão da vista, usando de forma eficiente as variações climáticas e atmosféricas, mesmo que de forma limitada e isso o levou até a empregar alguns recursos usados pelos pintores ideais. Sentiu-se mais livre para retratar com mais amplidão e de forma mais pitoresca, um horizonte mais amplo, digno de um artista. Graças ao patrocínio real nos cargos que exerciam, ele e seu irmão tinham posição de destaque na sociedade local. Graças à sua afabilidade e grandes conhecimentos artísticos, conseguiu reunir em volta dele um círculo de amigos intelectuais, os mais famosos artistas e amadores da época. Considerando sua posição, é natural que tomassem parte ativa na agitação e esforço que culminaram na criação da Royal Academy em 1768. Considerado o último e o melhor dos topógrafos, o seu trabalho tem que ser visto e considerado, à luz das obras dos aquarelistas que o precederam, como a maior evolução dedicada à técnica, que abriu caminho aos demais, que mostraram ao mundo o real poder da aquarela.
Como toque romântico, já octogenário, a janela de sua casa, da qual fazia pequenas aquarelas de efeitos de luz e sombra do Hyde Park em Londres para presentear suas antigas e prediletas alunas no Ano Novo, ficava a poucos passos do cemitério onde foi enterrado.




                                                                                               
                                                                  (PAUL SANDBY)



THOMAS GIRTIN

Esse gênio da pintura nasceu em 1775 e faleceu em 1802. Apenas 27 anos (tantos são os gênios que morrem nessa idade) foram suficientes para guindá-lo a uma irrepreensível posição entre os grandes mestres da pintura em aquarela, ombreando com Turner e outros como um dos grandes pintores ingleses.
Apenas 3 meses mais velho que Turner, cresceram juntos e trabalharam juntos desde o início dos tempos estudantis, colorindo imagens topográficas feitas por outros artistas. No entanto, os dois eram muito mais que topógrafos. Ambos fizeram muito para alterar a técnica e o desenvolvimento da pintura em aquarela, além de estabelecerem os fundamentos para a criação de uma Escola tipicamente inglesa. Eles usaram as técnicas antigas e as descartaram para crias novas!
É famosa e MUITO tocante a frase de Turner: "Se Girtin tivesse vivido, eu teria passado fome."
Um verdadeiro tributo do maior dos pintores ingleses ao jovem que era tão seu amigo desde sempre. Não posso deixar de pensar com tristeza profunda no ambiente de desmedida ganância, inveja e perversidade que domina o mundo artístico hoje em dia, a começar pelas Escolas. Que contraste!!!
Girtin foi aprendiz de Edward Dayes, um topógrafo.
Transcrevo aqui, em tradução livre, uma anotação feita por John Pye, um gravador, entre 1850 e 1860, um lustro após a morte de Girtin:
"O jovem Girtin, logo ultrapassou seu mestre, o que "essa invejosa e mesquinha pessoa" jamais o perdoou por isso. Os encômios dirigidos a seu aluno foram demais para ele e aumentaram seu ódio. De forma a tentar impedir seu progresso, Dayes o colocou para colorir gravuras semana após semana e mês após mês. Esse era seu trabalho até que, sentindo-se destinado a coisas melhores, Girtin reclamou com Dayes dizendo que ele havia sido colocado com ele para aprender a desenhar, não para colorir gravuras. Seu tirano insistiu em obediência. Girtin recusou; e com isso, Dayes fez com que Girtin fosse preso como um aprendiz refratário. O Conde de Essex, tendo tomado conhecimento de sua prisão, foi ter com ele e viu que Girtin havia coberto as paredes de sua cela com inúmeros esboços talentosos. Satisfeito com o jeito franco e sincero do jovem, o Conde o libertou de seu confinamento e da tirania de Dayes ao comprar seu contrato de aprendizagem; daquele instante em diante, até a morte de Girtin, o Conde continuou a ser um dos seus mais queridos e generosos amigos e mecenas."
Essa estória, entretanto, não tem comprovação documental nem histórica. Contudo, é dessas imagens que a arte vive também e tantas são as estórias saborosas que existem no mundo da pintura e das artes em geral, que encantam quem as conhece, por isso não pude deixar de citá-la.
De volta aos fatos, Girtin, enquanto trabalhava para Dayes, executava seu trabalho sob influência do mestre, ou seja, era artista topográfico de suprema competência.
(Em construção);;;











                                                                 (THOMAS GIRTIN)








JOSEPH MALLORD WILLIAM TURNER


(EM CONSTRUÇÃO)



                                                                     (TURNER)